quinta-feira, 7 de junho de 2018

Aprendi com os ancestrais




Aprendi com os ancestrais

A tradição é o que nos reúne
Em torno do legado de Aqualtune
Negra guerreira sequestrada de Angola
Entoou ladainha que rompia gaiola

Fundou o Quilombo dos Palmares
Pra que negros livres cortassem os ares
Experimentando a liberdade verdadeira
Que já corria nos quilombos e já jogava capoeira

Matriarca de Zumbi e de outros que estão por vir
Pra ensinar que resistir é o motivo de estarmos aqui
Caminhando em vida pelos nossos ancestrais
E cada vida gerada, é uma chance de fazermos mais

É por isso que esses vermes insistem nas chacinas
Mas não podemos esquecer da revolta de Zeferina
Que não aceitou ver seu povo como escória
E pegou em armas para entrar na história

Ogum também nos recomenda a guerra
Até que todo negro tenha seu pedaço de terra
Onde possa plantar para se alimentar
Pois aprendi com Negro Beiru que cultivar também é amar

E foi difícil de aceitar que amamos até nossos opressores
Demos o nosso suor, em troca do escarro sobre nossas dores
Fomos ensinados a isso pelos nossos professores
Ou melhor, repressores, mais parecem com feitores
Nos enfileiram em série até o abate dos senhores

Mas na Biblioteca Zeferina, abdicamos desse posto
Lá ocupamos um prédio sem ter que pagar imposto
Fizemos uma Biblioteca e uma Horta Comunitária
E o meu sonho, é ver isso em várias áreas.

Pedro Maia tem 23 anos. É poeta e educador. Membro da Biblioteca Comunitária Zeferina-Beiru, onde desenvolve atividades de ensino e aprendizagem a partir da Pedagoginga: proposta pedagógica que conjuga saberes interdisciplinares com uma prática efetiva e transformadora, referenciada nas matrizes culturais africanas e indígenas. A Biblioteca Comunitária Zeferina Beiru é uma organização comunitária autônoma e quilombola, situada no bairro do Arenoso, em Salvador.

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