Quero falar de amor
Sim, eu
quero falar de amor
No meio
de tanta dor, de um país despedaçado
onde o
trabalho escravo é mais uma vez aprovado.
Eles,
eles continuam pisando e chicoteando
nossos
corpos massacrados.
Brancos
Mascarados, Desgraçados.
Mas,
mas eu vim falar de amor,
no meio
de tanta dor,
da mãe
chorando pelo filho que não voltou,
ou pela
filha que, em casa, ensanguentada, chegou,
estuprada
pelo próprio marido que a deixou...
Mas,
mas eu vim falar de amor,
aquele
amor que não pode ser da mesma cor,
do
mesmo sexo, do mesmo calor, sabor...
e por
quantas vidas ele nem sequer passou
só o
silêncio ficou, parou, calou...
Ah, ah
este amor...
E
quantos corpos ele deixou?
Corpos
Negros. Olhe o Genocídio do Povo Preto!
Corpos
Negros espalhados por todo o gueto.
Corpos
Negros que você chorou. E eles, choraram?
E o
Estado que é laico, cujo preto, de branco, é demonizado,
onde só
se tem o cabelo bonito se for alisado;
onde se
tem um padrão estético forçado, implantado, empurrado,
empurrado
pelos nossos ventos para que tudo ficasse miscigenado.
E os
nossos? Ah, os nossos, alienados!
Brancos
Mascarados, Desgraçados,
Mas,
mas eu ainda eu quero um dia falar de amor!
Gisele Soares:
Rainha do Ilê Aiyê 2017, professora de dança formada pelo Centro Cultural Edson
Souto, agente cultural, diretora geral, coreógrafa e dançarina do conjunto de
pesquisa e desenvolvimento da arte Negra Preta’nça, mentora do movimento
comunitário Bazar da Deusa, Poetisa, mãe de Ayomí Zuhri.
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