Canto de Itapuã
hoje, 7
de setembro
do
morro de 7 de abril
o canto
da sereia de Itapuã me despertou
desci
pra Gamboa, tomei um banho e me equilibrei nas pedras
ouvi
seu grito lá embaixo na Cidade Baixa
subi a
ladeira do Curuzu
não vi
o Ilê
desci a
escadaria do Pelourinho correndo
chamei
Terezinha pra chupar um Piripiri mas ela disse que tava com Lobato e não
poderia vir
como
banana, desce liso na goela
chego
na Sussuarana pela Paralela
como
uva passa pelo Cabula
Pernambués
sangrou pra construir a Pituba
nesse
Campo Grande
só o
Garcia e a Graça jogam
água de
cheiro
como os
filhos de Gandhi
em cada
canto há um canto
seja da
pistola da PM
ou do
santo que escuta
todo
dia na minha quebrada
ouço um
canto diferente
é
grito, é choro, é briga, no Retiro
é preto
matando preto
é a
Peto matando preto
é a mãe
chorando pelo filho
preto
de Alto
de Coutos pra Baixa do Manú
de
Fazenda Coutos pro Alto do Peru
de Saramandaia
até Pau da Lima
de São
Marcos até Cosme de Farias
quando
cês verem um corpo no chão
não
ignorem
pode
ser seu filho, sobrinho ou parente
porque
quando eles matam não perguntam o nome da mãe e nem dos descendentes.
Breno da Silva Santos é poeta, estudante de
Serviço Social, residente do bairro periférico de Sussuarana. Começou
a escrever com 13 anos, a
maioria dos poemas eram humorísticos; em 2016 lhe apresentaram a poesia
marginal, poesia das ruas, nas ruas em que ele estava também. A arte lhe invadiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário