quinta-feira, 7 de junho de 2018

Canto de Itapuã




Canto de Itapuã

hoje, 7 de setembro
do morro de 7 de abril
o canto da sereia de Itapuã me despertou
desci pra Gamboa, tomei um banho e me equilibrei nas pedras
ouvi seu grito lá embaixo na Cidade Baixa
subi a ladeira do Curuzu
não vi o Ilê
desci a escadaria do Pelourinho correndo
chamei Terezinha pra chupar um Piripiri mas ela disse que tava com Lobato e não poderia vir

como banana, desce liso na goela
chego na Sussuarana pela Paralela
como uva passa pelo Cabula
Pernambués sangrou pra construir a Pituba
nesse Campo Grande
só o Garcia e a Graça jogam
água de cheiro
como os filhos de Gandhi

em cada canto há um canto
seja da pistola da PM
ou do santo que escuta

todo dia na minha quebrada
ouço um canto diferente
é grito, é choro, é briga, no Retiro
é preto matando preto
é a Peto matando preto
é a mãe chorando pelo filho
preto

de Alto de Coutos pra Baixa do Manú
de Fazenda Coutos pro Alto do Peru
de Saramandaia até Pau da Lima
de São Marcos até Cosme de Farias

quando cês verem um corpo no chão
não ignorem
pode ser seu filho, sobrinho ou parente
porque quando eles matam não perguntam o nome da mãe e nem dos descendentes.

Breno da Silva Santos é poeta, estudante de Serviço Social, residente do bairro periférico de Sussuarana. Começou a escrever com 13 anos, a maioria dos poemas eram humorísticos; em 2016 lhe apresentaram a poesia marginal, poesia das ruas, nas ruas em que ele estava também. A arte lhe invadiu.

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