Eu Tava Lá
Eu
morri junto aos 13 do Cabula.
Eu tava
lá quando a Síria foi atacada.
Eu fui
com os 5 do Arenoso, com os 18 de São Paulo e com os 400 e tantos de todos os
dias.
Fui
dizimada com a minha tribo.
Eu
morri na câmara de gás.
Eu tava
no paredão quando as balas podres de Hitler nos acertaram.
Não
resisti e morri na fila esperando atendimento do SUS.
Eu
também sumi no carro preto e minha mãe nunca mais teve notícias de mim, nem
viva e nem morta.
Fui
açoitada no tronco e Isabel não me libertou coisa nenhuma.
Eu já
morri de fome, de sede, frio...
Também
forjaram flagrante no meu bolso e me executaram e no noticiário... troca de
tiro! Eu nunca tive arma, seu moço!!
Fui
desovada no CIA junto com Marcelo.
Foi
tanto sangue derramado.
Sangue
dos partos! Sangue das dores! Sangue das mortes! Sangue das vidas!
Sangue!!!
Sangue!!!
Ainda
hoje brindam o progresso com o nosso sangue.
Eu
tenho o sangue dos injustiçados.
Eu
tenho o sangue dos injustiçados, mas dessa vez eu vim pra fazer justiça!
Kaaaooooò
Kabiesileeeeeeeeeeeeeeè!!!!!
Ayran Búfalo Reis Yaiá é mulher, negra, mãe,
nordestina, atriz, poetisa, arte educadora, produtora e tantos outros sinônimos.
Vem sendo símbolo de resistência diretamente do Quilombo do Beiru, mostrando
aos seus semelhantes que a arte liberta e transforma. Atualmente é graduanda em
licenciatura em Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia, onde vem
trilhando várias guerras para ocupar os espaços de poder.
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