quinta-feira, 7 de junho de 2018

Eu Tava Lá




Eu Tava Lá

Eu morri junto aos 13 do Cabula.
Eu tava lá quando a Síria foi atacada.
Eu fui com os 5 do Arenoso, com os 18 de São Paulo e com os 400 e tantos de todos os dias.
Fui dizimada com a minha tribo.
Eu morri na câmara de gás.
Eu tava no paredão quando as balas podres de Hitler nos acertaram.
Não resisti e morri na fila esperando atendimento do SUS.
Eu também sumi no carro preto e minha mãe nunca mais teve notícias de mim, nem viva e nem morta.
Fui açoitada no tronco e Isabel não me libertou coisa nenhuma.
Eu já morri de fome, de sede, frio...
Também forjaram flagrante no meu bolso e me executaram e no noticiário... troca de tiro! Eu nunca tive arma, seu moço!!
Fui desovada no CIA junto com Marcelo.
Foi tanto sangue derramado.
Sangue dos partos! Sangue das dores! Sangue das mortes! Sangue das vidas!
Sangue!!! Sangue!!!
Ainda hoje brindam o progresso com o nosso sangue.
Eu tenho o sangue dos injustiçados.
Eu tenho o sangue dos injustiçados, mas dessa vez eu vim pra fazer justiça!
Kaaaooooò Kabiesileeeeeeeeeeeeeeè!!!!!

Ayran Búfalo Reis Yaiá é mulher, negra, mãe, nordestina, atriz, poetisa, arte educadora, produtora e tantos outros sinônimos. Vem sendo símbolo de resistência diretamente do Quilombo do Beiru, mostrando aos seus semelhantes que a arte liberta e transforma. Atualmente é graduanda em licenciatura em Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia, onde vem trilhando várias guerras para ocupar os espaços de poder.

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