quinta-feira, 7 de junho de 2018

Corte de verbas pra educação




Corte de verbas pra educação

Cada corte,
Me dizem que sou forte
Mas Preto...
Eu não trabalho com sorte.

Até que se prove
Mais uma morte
Será ocultada

E quantas faces teve sua cabeça degolada?

Um fuzil que fuzila
São os olhos voltados
Para os portadores de melanina.

Um fuzil que fuzila
É o cano da PM
Que segrega tuas vítimas

Um fuzil que me fuzila
São às vezes
Que eu achei meu corpo
Estirado sobre o colchão...

No quarto, após o quarto copo
De vergonha na cara
Pelos gratos não,
Após a entrega do currículo
Ao dono da padaria
Ao gerente do mercadão.

As vezes em que a fome chegou primeiro
O Fuzil foi um tiro certeiro,
Pra quem não tem dinheiro
Ou passa fome, ou pede na rua, ou rouba...
Mas eu tive a sorte de dividir, o cenário com um baleiro

No buzu,
Junto à fome
Eu vi a poesia chegar primeiro.

Quem vê um sorriso,
Não sabe quanto custa
Um só riso

Não sabe o que fazemos com a mente
Pra achar que ela mente.
Que não oprime.
Que não cola.
A gente diz pra mente:
Fome eu mato até com coca...-cola.

- Meu parceiro, me dá um real.

Vou comprar um Hot Dog
Talvez hoje ele poderá ser
Meu prato principal

Por isso fortaleça sua quebrada
Se é feio negar água
É feio, comer calada.

Ao teu lado pode morar a fome,
E não julgue
Pois cada um sabe
Qual dor que lhe consome.

Cada um sabe a dor que lhe consome.

Porque quando não houver mais nada
Eu me contentarei em encher a barriga de palavra
Mas, e quem não conhece nada?
E pra quem a informação não chegou?

Vai pra rua roubar
Pra comer e se sustentar
Até que seja comido.
Afinal,
É nosso sangue que deixa o solo úmido

É nosso sangue que deixa o solo úmido.

Não reconheço ceia
Muito menos o natal
Se for pra comemorar o nascimento
Que seja da poesia marginal.

Kelvin Santos, Kelvin, como gosta de ser chamado, é soteropolitano. A poesia sempre foi seu instrumento de luta, antes para fugir dos problemas que assombram o esteio familiar, hoje para falar um pouco sobre os contextos sociais que norteiam sua vida.

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