quinta-feira, 7 de junho de 2018

Retratos de uma vida

Retratos de uma vida


Nasceu com uma cor que dizem ser ruim
Criança com a pele coberta com o véu noite;
Nasceu numa terra banhada com o sangue do acoite
Mentiras intrigas lavagem de dinheiro
A quebrada tá sinistra o tempo inteiro
O sofrimento é presente, a dificuldade companheira
Lamento, tormento, o tempo ensina a vida inteira
Olhe para mim e não julgue o meu cabelo
Me sinta, me veja, se olhe no espelho
Ter a pele preta no Brasil é ter apontado
Para a cabeça um fuzil
Nas suas balas estão a pobreza, o racismo, o preconceito e a exclusão

Na escola me contaram que fui escravizado, não houve resistência,
Já estava tudo dado
Os próprios pretos não eram aliados e por isso eram muito fáceis de ser dominados
Mentira mentira mentira mentira discarada
Essa história está muito mal contada

Não se renderam à sina de ser escravizados
Resistiram nos quilombos, amontoados, juntos
Lutando sempre lado a lado   

Resistiram até o fim; quantos morreram nesta terra antes de mim,
Empobrecidos pela lógica racista estanca
Escravizados pela racionalidade branca

De Cam a Zeferina, legalização religiosa e genocida
então se liga!
Desde os sepultados no mar aos corpos caídos nas favelas
Sequestrados, presos e mutilados, emboscam a si mesmos nas vielas.

Marivaldo Gomes Gonçalves é poeta, um dos integrantes do coletivo Juventude Ativista de Cajazeiras  - JACA.

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