(R)EVOLUÇÃO
(Kuma França)
(Kuma França)
O paradoxo do nós por nós
Nos
rodeia de constrangimento
Onde...
Agindo como Dado Dolabella
O
mano mira ser um Abdias Nascimento.
Enquanto tem um irmão que é adubo
Fertilizando
o solo de conhecimento
Ele
prefere tudo que é de fora
E
fazer da merda o melhor monumento
Eu, prefiro aqui dentro
Aqui
tenho minha vó, minha mãe
Minhas
tias e prima
É
massa falar sobre Ângela Davis
Mas
também quero ouvir sobre
Conceição
Evaristo
Vilma
Reis, Makota Valdina
Estamos
em constante aprendizado
O
“engraçado” é que tem gente que nega
Mas
quem não sai mudado ou tocado
Quando
ouve "meu cú minhas pregas"
Ou
que a revolução será "embucetada"
ZeferinaS
em ação, Pés descalços
Uma
galera “ozada”
Sou cria do JACA
E
não sou um terço da minha quebrada
Mal alimentada, somos heresia!
Mal alimentada, somos heresia!
Toda
favela é manjedoura de uma poesia
Eu
não preciso ir ao centro, ver fatos históricos no cartão postal
Basta
dar um rolê no sarau das perifas
E ouvir poesia marginal
E ouvir poesia marginal
Ouvir...
Sandro, Jenifer, Minhas meninas
Evanilson, Rool Cerqueira e todas as Limas
Sandro, Jenifer, Minhas meninas
Evanilson, Rool Cerqueira e todas as Limas
Que
hoje estão num livro
Porque
preto é realmente “ozado”
Estamos
raramente nos livros de história
E
nos centros de ensino
Nós
não somos ensinados
São
muitas inspirações
Pra
poucos inspirados
Que
aspirando hipocrisia
Inspiram
ego inflado. Cuidado!
Enquanto eu deschavo mágoas
Pra escrever meu mais novo pecado
Me
lembrei das ameaças
Que me fizeram mês passado
Que me fizeram mês passado
Mas
é no arsenal de marginal aqui presente
Que tô sempre baseado
Que tô sempre baseado
Acendo e trago, vocês em meu peito
E
faço a cabeça, suplico pra que poesia me enlouqueça
Pois
ainda somos a potência que alimenta a burguesia
Porque
ao invés de se unir, a gente se mata
Até nas canetas cheias de ideias vazias
Até nas canetas cheias de ideias vazias
Ouvi
alguém falar
E
finalmente aceitei um padrão
E
me rendi à categoria de traficante de informação
Oh por favor!
Quando for falar de favela
Fale
como símbolo de resistência
Pois
orgulho de pobreza e nada na panela
Isso
não é raiz, porra...! É demência!
Orgulho de quê?
Da
marginalização, da estrutura precarizada
De
ser negada educação, da cultura demonizada
Ah...
da polícia que você não sabe
Se
é pra matar ou pra proteger
Só
sabe que pra opressão tricolor
Essa
aí cê não quer torcer
Eles
não botam fé
Que
começamos uma nova era
Treta
de campo minado
Tipo
Canudos, Contestado
Contestamos
o estado
Da
Chibatada, da Armada, dos Malês
Da
Cabanagem, na sacanagem, vai ser mó viagem sem pegar em armas vai ser Balaiada,
Sabinada... Brasil
Verás
que um filho teu não foge a luta
Graças
à ressignificação
Hoje
temos orgulho de sermos
Filhos
da Puta
Não
somos de “moskar”
Mas
vai ser fria essa guerra
Cês
vão ver que urubu fica bikudo
Quanto
tem o seu sangue regando a própria terra
Geral
vai achar maior onda
Terrorista
pregando a paz
Mas
isso aqui não é rebeldia, é redenção
Não
vim chamar sua atenção
Eu vim vingar meus ancestrais!
Eu vim vingar meus ancestrais!
Kuma França é cria do quilombo do Urubu e do JACA. Filho de
Cajazeiras, é Poeta das quebradas, integrante do Coletivo ZeferinaS. Quando
escreve, canta ou recita levo consigo uma legião, ecoam consigo gritos de amor
e dor, não só seus, mas de todos que se permitiram estar aqui. “Sem poesia eu
não sou nada nem ninguém, poesia é vida, poesia é a minha vida. Poesia sou eu
que nunca caberei num verso!”.
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