quinta-feira, 7 de junho de 2018

(R)EVOLUÇÃO




(R)EVOLUÇÃO
(Kuma França)

O paradoxo do nós por nós
Nos rodeia de constrangimento
Onde... Agindo como Dado Dolabella
O mano mira ser um Abdias Nascimento.

Enquanto tem um irmão que é adubo
Fertilizando o solo de conhecimento
Ele prefere tudo que é de fora
E fazer da merda o melhor monumento

Eu, prefiro aqui dentro
Aqui tenho minha vó, minha mãe
Minhas tias e prima
É massa falar sobre Ângela Davis
Mas também quero ouvir sobre
Conceição Evaristo
Vilma Reis, Makota Valdina

Estamos em constante aprendizado
O “engraçado” é que tem gente que nega
Mas quem não sai mudado ou tocado
Quando ouve "meu cú minhas pregas"
Ou que a revolução será "embucetada"
ZeferinaS em ação, Pés descalços
Uma galera “ozada”

Sou cria do JACA
E não sou um terço da minha quebrada
Mal alimentada, somos heresia!
Toda favela é manjedoura de uma poesia

Eu não preciso ir ao centro, ver fatos históricos no cartão postal
Basta dar um rolê no sarau das perifas
E ouvir poesia marginal
Ouvir...
Sandro, Jenifer, Minhas meninas
Evanilson, Rool Cerqueira e todas as Limas

Que hoje estão num livro
Porque preto é realmente “ozado”
Estamos raramente nos livros de história
E nos centros de ensino
Nós não somos ensinados
São muitas inspirações
Pra poucos inspirados
Que aspirando hipocrisia
Inspiram ego inflado. Cuidado!

Enquanto eu deschavo mágoas
Pra escrever meu mais novo pecado
Me lembrei das ameaças
Que me fizeram mês passado
Mas é no arsenal de marginal aqui presente
Que tô sempre baseado

Acendo e trago, vocês em meu peito
E faço a cabeça, suplico pra que poesia me enlouqueça
Pois ainda somos a potência que alimenta a burguesia
Porque ao invés de se unir, a gente se mata
Até nas canetas cheias de ideias vazias
Ouvi alguém falar
E finalmente aceitei um padrão
E me rendi à categoria de traficante de informação

Oh por favor!
Quando for falar de favela
Fale como símbolo de resistência
Pois orgulho de pobreza e nada na panela
Isso não é raiz, porra...! É demência!

Orgulho de quê?
Da marginalização, da estrutura precarizada
De ser negada educação, da cultura demonizada
Ah... da polícia que você não sabe
Se é pra matar ou pra proteger
Só sabe que pra opressão tricolor
Essa aí cê não quer torcer

Eles não botam fé
Que começamos uma nova era
Treta de campo minado
Tipo Canudos, Contestado
Contestamos o estado
Da Chibatada, da Armada, dos Malês
Da Cabanagem, na sacanagem, vai ser mó viagem sem pegar em armas vai ser Balaiada, Sabinada... Brasil
Verás que um filho teu não foge a luta
Graças à ressignificação
Hoje temos orgulho de sermos
Filhos da Puta
Não somos de “moskar”
Mas vai ser fria essa guerra
Cês vão ver que urubu fica bikudo
Quanto tem o seu sangue regando a própria terra

Geral vai achar maior onda
Terrorista pregando a paz
Mas isso aqui não é rebeldia, é redenção
Não vim chamar sua atenção
Eu vim vingar meus ancestrais!

Kuma França é cria do quilombo do Urubu e do JACA. Filho de Cajazeiras, é Poeta das quebradas, integrante do Coletivo ZeferinaS. Quando escreve, canta ou recita levo consigo uma legião, ecoam consigo gritos de amor e dor, não só seus, mas de todos que se permitiram estar aqui. “Sem poesia eu não sou nada nem ninguém, poesia é vida, poesia é a minha vida. Poesia sou eu que nunca caberei num verso!”.

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