Favela Graduada
(Sandro
Sussuarana)
Correr
atrás da bola era brincadeira
Correr
de bala não é brincadeira
É assim
do subúrbio à Ribeira
Nossas
vidas, vendidas
Pro
lucro na vida de quem as tira
Comercializam
nossos corpos
Pra
burguesia se sentir melhor
Mais
segura
É por
isso que tantos corpos somem nas malas das viaturas
E os
preto que não percebem isso
Deve
ser porque acha que vai deixar de ser preto se ficar rico
Vai
mudar de vida social, sim
Mas não
vai deixar de ser um alvo de policial
Entende?
O
racismo é sutil, silencioso
Mas ele
tá sempre presente
E nem
adianta achar que se o "governo" for de esquerda vai ser diferente
Não
vai!
Tá
implícito nas linhas da Constituição
Que diz
que roubar é crime
Desde
que você não seja do alto escalão nem branco
Porque
a hipocrisia daqui rima com as mães do Cabula que estão em prantos
Porque
não tem conforto que vá reparar todos esses corpos furados de bala
Não
quero tapinhas nas costas, nem que venham me abraçar
Quero é
que parem de nos matar
De
justificar assassinato com tiro acidental
Porque
na periferia pode, né? é normal.
Quando
vamos parar de naturalizar essas coisas?
De
assistir Bocão dizendo que só morre assim porque fez essa escolha!
Desgraça,
quem escolhe morrer?
Cê acha
que os pivete vai pra pista por que quer ou por que não têm o que comer?
Pare
pra pensar e veja que na pirâmide econômica a gente é o corpo e não a ponta
Já
passou da hora de a gente se informar
De
entender que ser malandro mesmo é estudar
deixar
os racistas com raiva e se formar
Esfregar
o diploma na cara deles e gritar
Que a
revolução não será com armas
Será
com papel, caneta e a favela toda graduada!
Sandro Sussuarana é poeta, produtor cultural, professor de capoeira e
idealizador do Sarau da Onça. Organizou e lançou os livros "O Diferencial
da Favela: Poesias quebradas de Quebrada", "A Poesia Cria Asas",
"O Diferencial da Favela: Poesias e contos de Quebrada", e
"Verso (s) Sob (re) Mim", todos pela editora Galinha Pulando.
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