Sociedade de fazer
dor
Eu
tento, juro que tento não ser vitimista
Mas eu
não tenho culpa se o estado é genocida;
Elas
tentam, até tentam, pode levar fé
Mas
elas não têm culpa se o Brasil é especialista em matar mulher.
Eles
tentam, até tentam quando acordam todas manhãs
Mas
eles não têm culpa se de todos os países do mundo o Brasil é o que mais mata
trans
País
Lgbtfóbico, machista e racista
Se
prepara que nós tá na pista
Nós
subimos ladeiras, descemos o morro
porque
cansamos de só gritar socorro
Agora
que chegamos aqui
Se
preparem, vocês vão ter que ouvir
A dura
realidade que é ser “minoria” por aqui
Imoral,
anormal, banal,
Já me
acostumei com os discursos de ódio matinal
Somos
minoria, sim, em ascensão
longe
de viver o padrão
e suas
opressões jamais nos calarão
me dá
nojo seu discurso de cruz
é um
tanto curioso como vocês excluem a classe lgbt em nome de Jesus
Não é
no livro sagrado que diz:
Amai
uns aos outros como eu vos amei?
Onde lá
tem escrito “menos se ele for gay”?
Aprendeu
esse discurso no seu curso de pastor?
Lembra
dele quando for se masturbar vendo sexo lésbico, por favor
ser
chavecado por um gay deixa os hétero tudo ofendido
mas
assediar as mina pode, cadê a lógica, o sentido? vai vendo
Cansamos
do termo viado ser usado como pejorativo
Meu
corpo minhas regras, Meu cu minhas pregas
Somos
milhões de bichas pretas
trans,
bi, não-binário, sapatão, travesti
chegamos
pra acertar as contas
a cada
25 horas um de nós é assassinado
pela morte
da travesti Andréia impune ficaram os acusados
ninguém
sabe, ninguém viu, olho viu, boca piu
Somos
da mesma raça, sabe a humana?
não
deveria te interessar quem eu levo pra cama
seja
homem ou mulher
até
porque a vida é minha e eu pego quem eu quiser
Vai ter
que me engolir sem poder me coagir
Vai ter
LGBT casando, sim
Beijando
em praça pública e onde quiser
E só
pra você saber do meu armário eu quebrei a porta
Pra o
seu preconceito cura gay nunca será a resposta.
Lislia Ludmila é
poetisa negra e se apresenta em eventos de poesia da cidade. Organiza o Slam da
Quadra, batalha de poesias que acontece na Quadra de São Caetano, em
Salvador-BA.
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