quinta-feira, 7 de junho de 2018

Sociedade de fazer dor




Sociedade de fazer dor

Eu tento, juro que tento não ser vitimista
Mas eu não tenho culpa se o estado é genocida;
Elas tentam, até tentam, pode levar fé
Mas elas não têm culpa se o Brasil é especialista em matar mulher.
Eles tentam, até tentam quando acordam todas manhãs
Mas eles não têm culpa se de todos os países do mundo o Brasil é o que mais mata trans

País Lgbtfóbico, machista e racista
Se prepara que nós tá na pista
Nós subimos ladeiras, descemos o morro
porque cansamos de só gritar socorro
Agora que chegamos aqui
Se preparem, vocês vão ter que ouvir
A dura realidade que é ser “minoria” por aqui

Imoral, anormal, banal,
Já me acostumei com os discursos de ódio matinal
Somos minoria, sim, em ascensão
longe de viver o padrão
e suas opressões jamais nos calarão
me dá nojo seu discurso de cruz
é um tanto curioso como vocês excluem a classe lgbt em nome de Jesus

Não é no livro sagrado que diz:
Amai uns aos outros como eu vos amei?
Onde lá tem escrito “menos se ele for gay”?
Aprendeu esse discurso no seu curso de pastor?
Lembra dele quando for se masturbar vendo sexo lésbico, por favor

ser chavecado por um gay deixa os hétero tudo ofendido
mas assediar as mina pode, cadê a lógica, o sentido? vai vendo
Cansamos do termo viado ser usado como pejorativo
Meu corpo minhas regras, Meu cu minhas pregas

Somos milhões de bichas pretas
trans, bi, não-binário, sapatão, travesti
chegamos pra acertar as contas
a cada 25 horas um de nós é assassinado
pela morte da travesti Andréia impune ficaram os acusados
ninguém sabe, ninguém viu, olho viu, boca piu

Somos da mesma raça, sabe a humana?
não deveria te interessar quem eu levo pra cama
seja homem ou mulher
até porque a vida é minha e eu pego quem eu quiser
Vai ter que me engolir sem poder me coagir
Vai ter LGBT casando, sim
Beijando em praça pública e onde quiser

E só pra você saber do meu armário eu quebrei a porta
Pra o seu preconceito cura gay nunca será a resposta.

Lislia Ludmila é poetisa negra e se apresenta em eventos de poesia da cidade. Organiza o Slam da Quadra, batalha de poesias que acontece na Quadra de São Caetano, em Salvador-BA.

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