quinta-feira, 7 de junho de 2018

Despertar do Coma




Despertar do Coma

Favela, favela!
Quem és tu, favela?
Favela é mente, corpo e membro?
Favela sabe quem é favela.
Favela é conhecer a sua descendência, e não matar ela.
Favela não senta, favela corre.
Favela não é escravo, e sim fujona.
Favela não é malandra, mas sobrevivente.
Favela não soma, mas multiplica unida.
Favela fortalece favela, e não o sistema.
Favela rica e não pobre.
Favela assistiu, agora cochilou.
Favela perdeu a infância.
Favela morreu a cultura.
Favela unida, agora confusa.
Favela esquecida, se tornou desaparecida.
Favela governar, só se assassinar.
Favela agredida, em silêncio ela fica.
Favela grande, agora pequena.
Favela de ouro, mas tola.
Favela que engole, mas não vomita.
Favela ri, sem esperança.
Favela consciente, sempre questiona.
Favela sente o que é tortura.
Favela sabe o que é dieta.
Favela de caráter suicida.
Favela quer amor, o ódio ficou.
Favela feliz, é a mídia tentando iludir.
Favela de dia, só observa.
Favela de noite, tem que ficar esperto.
Favela sem lei, fica desorganizada.
Favela com lei, ela mata.
Favela negra, mas de consciência escravizada.
Favela suja, é os porcos que vão limpar as ruas.
Favela olhou, e não enxergou.
Favela ouviu, e não agiu.
Favela falou, mas não denunciou.
Favela morta, não ressuscita.
Favela humana, é uma bala de ponto 40 que se aproxima.

Edson dos Santos Junior é poeta, escritor e orador, natural de Santa Amaro da Purificação, vive e vivencia em Salvador. Trabalha há dois anos nas ruas de capital e de Camaçari, onde recita poemas e vende livretos de literatura periférica. Revela essa marginalidade corporal no Grupo teatral Ayá. É através do teatro e dos versos que essa semente cresce mesmo quando a terra está dura.

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