Pés no chão
Pés no
chão
Olhos
atentos
Corpo
sujo de barro
Cresceu
em meio ao crime
E a
negação de direitos básicos
Viu
tanta coisa ruim
Que uma
criança normal
Não
teria que ver
E as
mãos cheias de calo
São dos
ferros que catou
Pra
sobreviver
Juntava
umas moedas
E entre
uma brincadeira e outra se alimentava
Guardava
as cédulas
Pois
elas garantiam o alimento de casa
Viu seu
pai se afogar no álcool e na angústia do desemprego e por sentir suas mãos
atadas quase entrou em desespero
Pra ele
não importava o Nike
Nem o
Nintendo do ano
Bastava
ver sua família bem
E não
entregue aos prantos
E
quando o crime quis lhe abraçar
Sabia
pelo que estaria lutando
É
nessas horas que a gente entende
O ficar
rico ou morrer tentando
Quantas
vezes viu lágrimas no rosto de sua mãe
E um nó
em sua garganta lhe travar
Quantas
vezes ouviu dela “Deus lhe acompanhe”
E
questionou sua existência nesse lugar
Sua fé
cada vez mais abalada
Viu o
melhor amigo sair de casa e nunca mais voltar
E por
onde ele passava
O
barulho dos tiros insistia em lhe atormentar
Tempos
difíceis onde a política pública ainda não chegou
A não
ser pelo braço armado do estado
E os
corpos que não deixaram estirados
Foi
porque a arte e a poesia salvou
Quantas
vezes atrás de um sorriso precisou se esconder
Seus
problemas psicológicos
E os
medos não podiam transparecer
Buscou
forças pra resistir e superar a dor
Lutou
pra expressar no papel
Os versos
que ainda doem no seu interior
Foram
poucos, mas importantes os que na caminhada lhe fortaleceu
Abraçou
cada oportunidade e os ensinamentos que recebeu
Contrariou
as apostas e não se rendeu
Compreendeu
os caminhos que Oxóssi lhe deu
Cresceu,
fez de sua história poesia e sobreviveu
Mais
forte do que nunca
Esse
menino sou eu.
Evanilson
Alves dos Santos é natural de São Felipe-BA, mora em Sussuarana-Novo Horizonte,
capital. É um dos idealizadores do Sarau da Onça e do Grupo Recital Ágape.
Poeta, músico, articulador de juventude, produtor cultural, Instrutor de Teatro
e Poesia na Case Feminina Fundac-BA, suplente no Colegiado Setorial de
Literatura da Funceb. Tem poemas nos livros "O diferencial da favela:
poesias quebradas de quebrada" (2014) e "A Poesia Cria Asas"
(2014). Batalhador de Slams, inclusive o Nacional.
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