quinta-feira, 7 de junho de 2018

Pés no chão




Pés no chão

Pés no chão
Olhos atentos
Corpo sujo de barro
Cresceu em meio ao crime
E a negação de direitos básicos
Viu tanta coisa ruim
Que uma criança normal
Não teria que ver
E as mãos cheias de calo
São dos ferros que catou
Pra sobreviver
Juntava umas moedas
E entre uma brincadeira e outra se alimentava
Guardava as cédulas
Pois elas garantiam o alimento de casa
Viu seu pai se afogar no álcool e na angústia do desemprego e por sentir suas mãos atadas quase entrou em desespero
Pra ele não importava o Nike
Nem o Nintendo do ano
Bastava ver sua família bem
E não entregue aos prantos
E quando o crime quis lhe abraçar
Sabia pelo que estaria lutando
É nessas horas que a gente entende
O ficar rico ou morrer tentando
Quantas vezes viu lágrimas no rosto de sua mãe
E um nó em sua garganta lhe travar
Quantas vezes ouviu dela “Deus lhe acompanhe”
E questionou sua existência nesse lugar
Sua fé cada vez mais abalada
Viu o melhor amigo sair de casa e nunca mais voltar
E por onde ele passava
O barulho dos tiros insistia em lhe atormentar
Tempos difíceis onde a política pública ainda não chegou
A não ser pelo braço armado do estado
E os corpos que não deixaram estirados
Foi porque a arte e a poesia salvou
Quantas vezes atrás de um sorriso precisou se esconder
Seus problemas psicológicos
E os medos não podiam transparecer
Buscou forças pra resistir e superar a dor
Lutou pra expressar no papel
Os versos que ainda doem no seu interior
Foram poucos, mas importantes os que na caminhada lhe fortaleceu
Abraçou cada oportunidade e os ensinamentos que recebeu
Contrariou as apostas e não se rendeu
Compreendeu os caminhos que Oxóssi lhe deu
Cresceu, fez de sua história poesia e sobreviveu
Mais forte do que nunca
Esse menino sou eu.

Evanilson Alves dos Santos é natural de São Felipe-BA, mora em Sussuarana-Novo Horizonte, capital. É um dos idealizadores do Sarau da Onça e do Grupo Recital Ágape. Poeta, músico, articulador de juventude, produtor cultural, Instrutor de Teatro e Poesia na Case Feminina Fundac-BA, suplente no Colegiado Setorial de Literatura da Funceb. Tem poemas nos livros "O diferencial da favela: poesias quebradas de quebrada" (2014) e "A Poesia Cria Asas" (2014). Batalhador de Slams, inclusive o Nacional.

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