quinta-feira, 7 de junho de 2018

Em sete de setembro...




Em sete de setembro...
               
Que horas é então que se percebe
Que se perde
O fio da meada
As contas do colar
No qual se contavam histórias
Ao se pendurarem no pescoço?
Mas é que a gente
Nunca sabe o que pode por ventania haver
Caso não se compreenda coisa alguma
Quando acaso se perca a cabeça
No exercício de pensar em demasia
E já não é por acaso então
Que em dias de sete de setembro
Onde o tempo é livre entre os desfiles e ecos dos sons
E até a ironia é
Mas eu ainda não,
Que o sol já se deixa cair,
Mergulhando rápido demais no mar
Enquanto caio em mim
Que defronte a estas estátuas de olhos frios
Ao som dos carros, altíssimos
Que altissimamente quase sempre me agridem
Em meio ao medo de sentar e estar só
Na praça quando não se tem quase ninguém.
É sete de setembro
Todos estão livres,
Nós não
Fito em mim, de olhos arregalados, quase úmidos
No reflexo da poça,
Poço que me engole
E quase morro quando um rapaz vem me pedir uma seda
E me mede inteira, quase me engole
Quase me estraçalha, me violentando
Com seus olhares, sorrisos, expressões e algum comentário sobre meu corpo
Já não me assaltam
Me fitam, me seguem, me objetificam
Posso assaltar-me de indignação a qualquer instante
Por não me ser permitido estar numa praça semi-vazia
Pois ainda dizem que é nossa culpa...
(por roupas, gestos, palavras, existência...)
Não é nossa culpa!
Não é nossa culpa!
Não é nossa culpa!
A culpa é deles
Sou uma mulher quase sozinha numa praça
Num feriado, com a tarde caindo
E de tanta vontade de poder me ser,
Tremo de indignação (e medo também) que ainda não possa.

Michelle Saimon é escritora, arteira/alquimista/artesã, reikiana, bacharela em humanidades e estudante de psicologia. Tem textos publicados em algumas antologias e expõe suas poetizações acerca do cotidiano no blog/página do Facebook “Sobre Dias Nublados”, e onde mais tiver algum tanto de gente querendo ouvir poesia por aí.

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