quinta-feira, 7 de junho de 2018

Desabafo




Desabafo
(Cairo Costa)

É a bala veloz
Do branco algoz
Que cala a voz
Do jovem da favela;
Favela que ouviu
O som de fuzil
O corpo sumiu
Bem vindo ao Brasil,
País do carnaval,
Onde os 10% mais ricos detém metade da renda total
Ainda tem gente que acha normal.
Seria engraçado se não fosse trágico,
Pois metade das casas brasileiras não possui saneamento básico
E todo ano é a mesma piada
O mosquito viraliza, a culpa é sua que deixou a água parada
O que parou por aqui foi a verba para educação
A merenda foi roubada
O professor levou pancada
Dos heróis que vestem farda
E que protegem o governo
Os que venderam a educação para manter o lucro dos banqueiros
O movimento é desigual
O que rege é o capital
A ciência é o aval
Para os fins justificar
Eu sempre lembro de uma história
Que aprendi na minha escola
O indivíduo quando rouba
Tem a natureza má
Quanto vale uma vida?
Quem souber me diga!
Implantar no gueto
O medo e o desemprego
É o plano perfeito
Para criar os suicidas
E a cor do suspeito?
Por favor me digam
Tá tudo estarrado
Corpo negro leva enquadro,
Toma murro, é humilhado,
Com flagrante é encarcerado,
Observem o resultado
Sempre da mesma maneira
O Playboy paga fiança
Passa um dia na cadeia
A juíza sente dó
Porque ele agora cheira pó
Com sua tornozeleira
Será que é futuro se persiste o passado?
Será que o Estado é mesmo meu aliado?
Palavras bonitas do século XVIII
Liberté, egalité, fraternité
Vá se fuder, que esse migué eu não vou comer

Cairo Costa é poeta integrante do grupo Juventude Ativista de Cajazeiras – JACA e sua militância é em prol de um mundo igualitário, em que todos e todas tenham direitos iguais, com respeito às diferenças e que o poder seja exercido igualmente por todos e todas.

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