Tira
mão de nós
Meu povo, minha luta, meu corpo, nossas marcas
Até hoje somos a caça preferida
Somos o pedaço perdido de África trazido em uma
caixa que flutuava, morrendo enfermo
Tumbeiro hoje é Ranger azul e branco que leva
preto de volta pra senzala
As chicotadas nas costas, carrega a atualidade
nos becos, as tapas na cara onde o que se vê pela opressão se cala, nada se para
Terreiro sendo destruído, pessoas sendo
instruídas
Acreditar que Exu é inimigo, e em uma religião
branca é seu abrigo
Fé confundida, ancestralidade cortada
Isabel assinou um papel com medo, liberdade
forjada
Uma tabela de cores, a tal miscigenação da
pátria amada
Que glorifica uma massa de mulher preta
estuprada
Tira mão de nós, racista
Você separou de mamãe os seus filhos, quis
extinguir nossa raça
Não conta nossa história nos livros. Faz
acreditar que a culpa é nossa, mas um dia será cobrado, vai ser cobrada
É pouca zideia, vê se entende
Não tô aqui pra empretecer e sim explodir cada
Quendilende
guerra é guerra! Vocês se fuderam, não era
dança
no mato cortado, capoeira, força, fé,
esperança, abayomi para nossas crianças, trança nagô
Agô pra os mais velhos e mais novos. A missão
aqui é fortalecer os nossos povos divididos, inimigos, aqui incluído, trabalho
escravo
pra digerir tudo isso, me traz uma dose de
cravo
se não travo, tenho que ficar bebo. É sério
dói saber que até hoje mão escrava de negros e
índios, que brancos até constrói seus império.
comoção é branca. África "tem
maldição", é?
povo na lama, 500 na Somália não importa.
Tragédia é meia dúzia em Barcelona
Reis e Rainhas. Entenderam? Reis e Rainhas
Homem preto não significa suspeito e a preta
não é só linda de chapinha
Quero ter a liderança de César, e a raiva de
Koba, pra cobrar
pra tomar, pra tombar e o gueto parar de tombar
Radical? tá bom!
parem de nos matar!
E se for preciso, igual a Django, vamos
aprender a atirar
Lutarei por nós, sentirei por nós, chorar por
nós
mesmo que o plural não entenda de fato o
significado
Quantos Kings morre de bala antes de ser
ouvidos?
quantos Mandelas na peri é
"confundido" com bandido?
quantas Dandaras são violentadas?
quantas Assata Shakur são exiladas?
Indemar Nascimento
escreve desde 2011 e pretende levar mensagem e virar espelho pra sua comunidade
e todas as perifas. Sua identificação com a palavra, com a poesia, tem levado o
poeta a trilhar vários caminhos nas letras: rap, sarau, slam. O poemário deste
artista está disponível em áudio, vídeo, e em livro também. Ele foi um dos
selecionados no Prêmio Galinha Pulando de Literatura 2015.
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