quinta-feira, 7 de junho de 2018

Tira mão de nós




Tira mão de nós

Meu povo, minha luta, meu corpo, nossas marcas
Até hoje somos a caça preferida
Somos o pedaço perdido de África trazido em uma caixa que flutuava, morrendo enfermo
Tumbeiro hoje é Ranger azul e branco que leva preto de volta pra senzala
As chicotadas nas costas, carrega a atualidade nos becos, as tapas na cara onde o que se vê pela opressão se cala, nada se para
Terreiro sendo destruído, pessoas sendo instruídas
Acreditar que Exu é inimigo, e em uma religião branca é seu abrigo
Fé confundida, ancestralidade cortada
Isabel assinou um papel com medo, liberdade forjada
Uma tabela de cores, a tal miscigenação da pátria amada
Que glorifica uma massa de mulher preta estuprada
Tira mão de nós, racista
Você separou de mamãe os seus filhos, quis extinguir nossa raça
Não conta nossa história nos livros. Faz acreditar que a culpa é nossa, mas um dia será cobrado, vai ser cobrada
É pouca zideia, vê se entende
Não tô aqui pra empretecer e sim explodir cada Quendilende
guerra é guerra! Vocês se fuderam, não era dança
no mato cortado, capoeira, força, fé, esperança, abayomi para nossas crianças, trança nagô
Agô pra os mais velhos e mais novos. A missão aqui é fortalecer os nossos povos divididos, inimigos, aqui incluído, trabalho escravo
pra digerir tudo isso, me traz uma dose de cravo
se não travo, tenho que ficar bebo. É sério
dói saber que até hoje mão escrava de negros e índios, que brancos até constrói seus império.
comoção é branca. África "tem maldição", é?
povo na lama, 500 na Somália não importa. Tragédia é meia dúzia em Barcelona
Reis e Rainhas. Entenderam? Reis e Rainhas
Homem preto não significa suspeito e a preta não é só linda de chapinha
Quero ter a liderança de César, e a raiva de Koba, pra cobrar
pra tomar, pra tombar e o gueto parar de tombar
Radical? tá bom!
parem de nos matar!
E se for preciso, igual a Django, vamos aprender a atirar
Lutarei por nós, sentirei por nós, chorar por nós
mesmo que o plural não entenda de fato o significado
Quantos Kings morre de bala antes de ser ouvidos?
quantos Mandelas na peri é "confundido" com bandido?
quantas Dandaras são violentadas?
quantas Assata Shakur são exiladas?

Indemar Nascimento escreve desde 2011 e pretende levar mensagem e virar espelho pra sua comunidade e todas as perifas. Sua identificação com a palavra, com a poesia, tem levado o poeta a trilhar vários caminhos nas letras: rap, sarau, slam. O poemário deste artista está disponível em áudio, vídeo, e em livro também. Ele foi um dos selecionados no Prêmio Galinha Pulando de Literatura 2015.

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