quinta-feira, 7 de junho de 2018

SALVA a DOR




SALVA a DOR

Bem vindxs a minha cidade, 
SALVA a DOR de quem pode pagar.
Preta, pobre, não tive sorte.
23 anos enganando a morte. 
Um corpo negro incomoda, imagina quando começa a falar, quiçá gritar. Abordagens.
Chacinas.
Medo.
É o que tem feito. 
Segurança Pública pra burguesia, extermínio pro povo negro. 
Na arte da favela não investe, e eu que tô descontrolada.
Balas sendo direcionadas, e eu que tô descontrolada.
Mulheres sendo estupradas, crianças aliciadas. 
Favela silenciada!
E o meu monstro domesticado, vai se alimentando de ódio.
Ô, degola quem tá no pódio!
Tomba esses milícias, o jogo é pra quem tá na pista. 
Capoeira em prática, fúria negra terrorista. 
E as brancas que escondem as bolsas não tão isentas.
Racismo reverso, tá mais pra pimenta no cuduzoto, é pimenta. 
Te orienta, desce do prédio e pratica o que fala, no meu jogo as palavras são como balas. 
Cada uma no peito de quem atrasa o corre, bala no peito de quem roubou os lotes, nossas terras nas mãos dos guelas, bala na testa de quem utiliza a patologia pra justificar maldade. 
O rap nunca foi viagem, pros covardes, Sabotage viraria a cara se te visse pagando de malandragem. 
Malandragem de verdade é viver e SALVA a DOR, é muita treta. 
Nós nem respira, quando bate de frente com os capetas.
Pele preta, farda parda.
Prata no pescoço virou ameaça. 
Pouca ideia pra quem é de duas.
Verdade nua e crua, pra quem conhece as ruas.
Minhas referências são os que invadem os busão.
Voz de assalto, roubando sua atenção.
Poesia marginal pra conscientizar sua mente, antes que a globo te deixe mais branca que repelente. Repelindo os pretos(as) como se fossem muriçocas, se olha! 
Resistência Quilombola, não se aprende na escola.
E se o conhecimento das ruas não é valorizado, o da universidade nunca será validado. 
Tumultua minha cabeça, uma droga que não dá barato.
Racismo científico que trata os pretos como ratos.
Hobby dos brancos racista é corpo negro sendo estudado.
White na capoeira, Brasil miscigenado. 
Povo preto exterminado.
Indígenas exterminados.
Supremacia branca.
Brasil miscigenado.
Vivências, ser resistência é sentença. 
Já diziam: Quem não tem sangue de negros nas veias, tem nas mãos.
Pensa nisso, antes de dizer que todo preto é ladrão.
Exterminador, olha a história do Brasil, tudo que o negro passou.
Muita dor! 
Peço forças pra continuar, e se existirem deusas, que tentem nos salvar. 
Da miséria, do descaso, das injustiças, do medo, da fome, dos de farda racista.
Resistência em cada espaço, cobra não pica o próprio rabo, povo negro unificado, lado a lado.
Destruir tudo que nos limita, inclusive o racismo institucional, fire nas casas brancas, e no Congresso Nacional, sem alarde!
Ubuntu em prática, recriar Palmares. 
Capoeira Angola me motiva, fúria negra terrorista. 

Dricca Silva é poetisa, artista de rua, produtora cultural do Slam das Minas-BA, integrante do Grupo de Poesia Resistência Poética, graduanda no BI em Artes (UFBA), angoleira na Associação de Capoeira Angola Relíquia Espinho Remoso. A poesia é seu espaço para desabafo sobre vivências enquanto o seu lugar de mulher negra periférica na sociedade, e como arma para compartilhar conhecimento, denunciar e incitar diálogos sobre questões que envolvem os corpos negros em Diáspora.

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