quinta-feira, 7 de junho de 2018

Resistência Diária




Resistência Diária
(Amanda Denis)

Abusivo! O sangre explana, não todo mês, é todo dia
A cada uma hora e meia uma fêmea fica fria
Águas claras, a baixa é fria.
Moisés, pense na sua filha, não a divida
Reflita!
Independência financeira, psicológica.
Nunca mais brinque com minha lógica,
Use a lógica.
Não nos vendem em loja respeito e proteção, são os dólares
Caros e raros na minha conta
Cuidado, do quarto andar caio
Se ele for contrariado
A masculinidade, vem numa caixa estampada frágil.
Apressada e nem tô atrasada,
À noite corro disfarçada
Nessas horas, homem sinônimo de ameaça
Sensação de insegurança, conto nos dedos e nem chegou no indicador
O epicentro da minha dor, crime oriundo, placas tremem, orgasmo de terror, Orgasmo de terror.
Me convida pra evento lá no centro, começa às 7,
Penso, na volta só estação Pirajá que serve.
Ele preocupado entre uber ou 99 e eu tenho que sair antes das 9
Se não é molotov, desafiei a morte
Números complexos, 1 de 5 será violentada um dia, procuro o nexo
Feminicídio íntimo, não íntimo, por conexão
Em defesa da minha honra, não tem mais perdão,
Desembaçando a visão,
Não os deixe levantar a voz, saia da prisão, erga sua mão
Violência de gênero é institucional,
A mulher preta na base da pirâmide social
Nós vai girar esse capital, fazer a coisa ficar preta, no aspecto geral
A melanina e a vulva, se fortalecem sem precisar de nominal.

Somos minas, somos mina de ouro,
E eu só brilho e ofusco os machistas escroto.
Lembre-se das nossas ancestrais, toda mulher preta é um quilombo:
Maria Felipa, Tia Simoa, Dandara,
Tenho Mahin eternizada na minha alma,
Nunca mais subordinada,
Só adjetiva, explicativa de empoderada.
Não se contente com migalhas
Pretas… Não se contente com migalhas
Pretas… Não se contente com migalhas

Amanda Denis participa do Coletivo ZeferinaS. Poesia para ela é puro sentimento, energia e um grito de desabafo. Uma forma de compartilhar ideias, mostrar outros lados da história e perceber que cada ser, cada poeta, tem a sua singularidade através da escrita.

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