Mixtus
(Marcos
Paulo Silva)
Desejei o
fútil e o banal durante anos
Acumulei
muitas coisas,
Masturbei-me
na intenção de um sonho
Lá longe
queria até ganhar na “megasena”
Entretido
no colorido arco-íris da televisão
Letárgico,
esperava por mais um episódio da vida
De uma
história que não era a minha.
Assistia
o mundo e vivia comigo,
Sem saber
quem eu era
Esperei e
esperava por um tempo que só piorava
Apatia,
simpatia e fé... Nada deu certo
No olho
do furacão,
Tentei
refletir com meus princípios filosóficos
Quem sou
eu dentro disso tudo?
Um
mestiço
É uma
mistura de enguiço com feitiço
Nada sabe
sobre si
Pois não
tem identidade
Vagueia
sem passado.
Outrora...
Fruto do estupro da branquitude
Agora...
Projeto da indústria cultural
A
identidade do mestiço é nacional:
RG, CPF,
título de eleitor, carteira de trabalho
Dinheiro
no banco, cartão de crédito, salário.
Time de
futebol, hino nacional.
Um
mestiço... Tá colado com quem?
Descolado
do mundo
Um
mestiço não tem passado
Ancestralidade,
história ou tradição.
O
mestiço. Foi forjado pelo estado nação.
Classificado
racialmente por indefinição
O mestiço
é alguém que não é.
Num país
miscigenado,
Os
descendentes de mulas são mulatos.
Os
descendentes de leopardos são pardos.
Mas não
são negros
Porque
ser negro não lhe confere nenhum privilégio.
Todos
querem ser mestiços,
Somos
todos miscigenados
No país
onde não se têm brancos,
Os
brancos são privilegiados.
Pensando
bem
Foda-se
sua ideologia de democracia racial!
Não sou
pardo, nem mestiço, nem mulato,
De minhas
entranhas urram Zeferinas, Dandaras, Mahims, Zumbis.
Toda uma
força de vida,
Toda uma
contribuição cultural,
Um sonho
de esperança que me mantém vivo.
Meu punho
é minha lança
Símbolo
da resistência
Ahh!
pensando bem...
Foda-se
sua ideologia de democracia racial!
Pardo e
mestiço
Numa
sociedade sem racismo
O mestiço
é a mistura das raças
Que raça?
A humana?
O mestiço
é o fetiche dos brancos;
Faz a
mágica de misturar
A raça
humana com ela própria.
Se não
existe racismo
Por que
falar do mestiço como uma espécie diferenciada?
Os
outros, somos nós, dizia o cara pálida.
Marcos Paulo é um
dos coordenadores do Sarau do Jaca – Juventude Ativista de Cajazeiras e escreve
desde 2005 sobre temas variados. O foco, no entanto, é o racismo. Com a arma
nos dentes, a palavra, o poeta usa a poesia para combater o sistema opressor.
só amo
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