quinta-feira, 7 de junho de 2018

Dia de trabalho




Dia de trabalho
(José Cláudio Onofre)

Dorme tarde, acorda cedo.
Começa a rotina
Sem carro próprio, peregrina
Desce ladeira, vira a esquina
O ponto fica lá em cima, corre para não perder
Ei, você!” Perdeu a condução
Um palavrão ecoa. “Vai para o Sul!”
Aguarda o próximo
Olha o relógio. “Vum”, “vum”!
O tempo não espera
Vai tomar uma bronca daquelas!

Até que enfim chegou! “Bom dia, motô”!
Buzu lotado, todos amontoados;
Com licença. Abre a janela aí, cunhado!”
É uma viagem, mais uma vez vou chegar atrasada
Minha patroa fica retada e não entende nada
Fala que a culpa é da gente

Infelizmente, a sorte dela não foi para mim
Dona Sônia nem sonha que levanto às 4
Boto o café do marido, lavo os pratos
Pego o ônibus lotado, trânsito engarrafado,
Motorista estressado, sufoco danado

Ela dorme às 22, acorda às 14 horas e faz um café reforçado
Sai para visitar a amiga
Em seguida, passa no shopping
Depois ao Pet Shop para cuidar do bichinho de estimação.
Que vidão!

Eu esquento a barriga no fogão e esfrio na pia
Cuido da patroinha, limpo a sala e a cozinha
Ainda nem fiz a metade
É hoje que meu marido briga comigo só porque eu cheguei tarde
E amanhã começa tudo novamente.

José Claudio Onofre (Mc BisQüi) migra para a capital, ainda criança, com seus pais. Em 2004 conhece o Movimento Hip Hop que vira seu instrumento de luta e incentivo para manter-se fora da criminalidade, quando passa a participar do grupo de rap Face Humana, formado por amigos, que anos depois termina por motivos diversos. Mas o poeta dá continuidade mesclando rap e poesia e idealizando projetos para o fortalecimento da comunidade onde vive.

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