Valdeck Almeida de Jesus
“O
que não se registra o tempo leva”
(Mãe Stella de
Oxossi)
Em 2009
Leandro de Assis fundou o Fala Escritor, para reunir poetas para recital,
declamação, palestras sobre o universo do livro, leitura e literatura. Faço
parte da equipe desde então. O projeto me estimulou a conhecer outros
escritores e, para isso, passei a circular pelos bairros da cidade; por conta
disso, conheci vários grupos de poetas, saraus e coletivos, muitos surgidos
nessa mesma época. O encontro com os artistas da palavra me levou a escrever
mais, ler mais, conhecer e fazer intercâmbio. Nesses novos espaços assisti apresentações de poetas individuais,
homens, mulheres, crianças, senhores e senhoras, muitos com vários textos
guardados, outros, ainda navegantes de primeira viagem. O grito essencial é
contra toda forma de opressão, racismo, homofobia, gordofobia, transfobia,
machismo, genocídio, racismo religioso; os poemas fazem denúncia social e
trazem novas referências estéticas. Entretanto, o registro impresso dessa
produção ainda é incipiente.
A
antologia “Poéticas periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana” é uma
contribuição, concretiza sonhos de publicação e mostra uma visão panorâmica da
poesia de diversos bairros de Salvador, além de marcar um momento histórico. Os
artistas da palavra aqui representados são uma pequena parcela da grande
quantidade de escritores, dos quais pouco se conhece, por conta do racismo
estrutural que torna quase impossível a publicação, circulação, fruição da
poesia da periferia negra.
Este
livro não dá conta da profusão de poetas e poetisas, mas é um passo para
catalogar e registrar nomes e obras de importantes autores de nossa cidade,
apesar de a quantidade de exemplares não ser suficiente para chegar às mãos de
todos os leitores, devido ao alto preço de produção e impressão. Para facilitar
a circulação e difusão, o arquivo em PDF estará disponível no blog Galinha
Pulando e nos sites da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – Secult e
Fundação Cultural do Estado da Bahia – Funceb. Nesse formato, o livro ficará
acessível, também, às pessoas com baixa visão e a quem não enxerga, pois
poderão ler o texto ao ampliar a fonte ou submeter a leitores Daysi[1], além de poder circular pela rede de internet com
facilidade.
Registro meus
agradecimentos a cada um dos coletivos que assinaram carta de anuência (lista
abaixo), aos prefaciadores Dhay Borges, Geilson dos Reis e Tia Má, a Marcos
Paulo Silva e Alisson Chaplin por cederem ilustrações para capa e contracapa,
respectivamente, a Thi Zion pela gentil contribuição na revisão geral, e a cada
um e cada uma que chegaram junto quando convidados(as), aos que puderam
contribuir, aos que não se sentiram prontos ainda para publicar num livro, aos
que tentaram, aos que fortaceleram de alguma forma, aos anônimos, enfim, espero
que este seja apenas o primeiro passo de outros projetos e que, cada um a seu
tempo, possa estar presente.
Importância do projeto -
Fortalecer o trabalho já realizado pelos diversos coletivos, estimular a
criação poética, proporcionar a circulação da produção de poesia através dos
saraus e slams, propiciar o registro da produção literária, fomentar o mercado
editorial local, colocar a produção poética em oportunidade de ser fruída em
diversos territórios de identidade da cidade do Salvador. Além disso, o livro
pode se tornar uma ferramenta para utilização em propostas de projetos
culturais da cidade, do Estado ou mesmo da União, servir de produto educacional
e artístico para utilização em salas de aulas, propiciando a inclusão social e
cultural de poetas da cidade nos meios de produção do pensamento, da educação
(in)formal e da cena estética e cultural da cidade.
Há
reservas e críticas às políticas públicas relativas a cultura, sejam dos
governos federal, estadual ou municipal. Teoricamente são acessíveis, de forma
democrática e universal. Entretanto, o financiamento não chega a todos e todas,
devido a uma série de fatores como complexidade dos grandes editais, burocracia
inerente por exigência legal, total de dinheiro investido nem sempre suficiente
para as demandas, dentre outros aspectos. São centenas ou milhares de projetos
inscritos, muitos deles por pessoas ou grupos já experientes, o que acaba
dificultando o acesso a outros coletivos que, na sua maioria, estão envolvidos
para manter as atividades, não sobrando tempo para concorrerem a editais.
O
Calendário das Artes – que patrocina este livro -, por outro lado, tem
importância peculiar, pela simplicidade de acesso para grupos menos
experientes. Mesmo assim, diante de tantos artistas inscritos e o limite de
projetos selecionados, deixa muita gente de fora. Ainda é necessário muito mais
investimento em cultura.
Fica
aqui o meu profundo agradecimento e o registro de minha alegria em poder fazer
parte deste grupo de artistas que se uniram em prol da poesia. Assim que foi
lançada, a ideia de publicação do livro foi logo abraçada por parceiros e
parceiras que fazem a cena literária da periferia acontecer. E esta obra literária
é o resultado da contribuição de todos e todas os(as) participantes. Espero que
tenham uma boa leitura!
Valdeck
Almeida de Jesus é poeta e Jornalista
Artistas
solo, grupos e coletivos que assinaram carta de anuência:
Artista
Independente – Renata Rimet (Luís Anselmo)
Sarau
da Onça e Slam da Onça – Sandro Sussuarana (Novo Horizonte)
Sarau
da Jaca – Marcos Paulo Silva (Cajazeiras V)
Sarau
do Cabrito – Fabrícia de Jesus (Alto do Cabrito)
Sarau
do Gheto – Pareta Calderasch (Gamboa de Baixo)
Sarau
da Laje – Alaíde Santana (Sussuarana)
Sarau
Di Kebrada e Coletivo Cabeça – Udmila Santos (Paripe)
Slam da
Soronha – Indemar Nascimento (Baixa da Soronha - Itapuã)
Slam
Deixa Acontecer e Grupo Ágape – Evanilson Alves (Sussuarana Velha)
Sarau
Zeferinas – Kuma França (Cajazeiras V)
Sarau
Arte-Livre – Geilson dos Reis (UNEB – Águas Claras)
Sarau
do Gato Preto da Sorte – Tiago Nascimento (Santo Antônio Além do Carmo)
Slam da
Quadra – Lislia Ludmila (São Caetano - Calabetão)
Sarau
Urbano – Larissa Barros (Engenho Velho de Brotas)
Sarau
Boca Quente e Coletivo Boca Quente – Carlos Leleco (Dois de Julho - Pelourinho)
Sarau
da Arte e Coletivo G13 – Josue Ramiro (Stela Mares e Ladeira da Independência)
Sarau
Enegrescência – Lidiane Ferreira (Casa de Angola - Barroquinha)
A Pombagem
– Fabrício Silva de Brito (Boca do Rio)
Sofia
Centro de Estudos e Sarau Suburbano –
Ladailza Teles (Escada - Suburbana)
CEPA
Jovem – Alex Bruno (Paripe – Barbalho - Lapinha)
Abafi
Produz e Coletivo A TU AR – Iara Santos Vilanueva (Boca do Rio)
Artista
Independente – Rafael Pugas (Garcia)
A
Currute Poesias - Taíssa Cazumbá (Centro Histórico)
Editora
Galinha Pulando – Valdecy Almeida de Jesus (Baixa dos Sapateiros)
Coletivo
Nosso Palco – Samuca Koala (São Caetano)
Coletivo
Pega Visão – Érick de Jesus (Sussuarana)
Coletivo
Pé Descalço – Samuel Lima (Sussuarana)
Cine
Sindicato – Luan Victor (Nordeste de Amaralina)
Resistência
Poética e Poeta com P de Preto – Rilton Junior
Neste blog você pode encontrar uma mostra dos saraus da cidade:
www.sarausdepoesiaemsalvador.blogspot.com.br.
[1] Dorina Daisy Reader - aplicativo de leitura
de livros digitais criado pela Fundação Dorina Nowill para cegos em parceria
com a Results.
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